segunda-feira, 5 de abril de 2010

BIOGRAFIAS

 Grand Funk



O Surgimento

O estado de Michigan, nos EUA, foi o berço das maiores bandas de garagem da América. O famoso “som de Detroit” e seus arredores, como Saginaw e Flint, ficou caracterizado pela incrível agressividade, força e volume que suas bandas nativas geravam. Exemplos como Stooges, MC5, Ted Nugent’s Amboy Dukes, Bob Seger System, Cactus e Alice Cooper, mostram que era a “capital nacional do som de garagem” em contrapartida ao som lento e viajante da costa Oeste, vide a psicodelia de São Francisco.
Em 1964, foi criado o Jazz Masters em Flint. Liderada pelo baterista Don Brewer, a banda foi fazendo muito barulho pelos clubes e escolas da região. Isso até aparecer na vida deles em 1967 Terry Knight, que era um pouco de tudo: cantor, disc jóquei e empresário. Agora batizada de Terry and The Pack, a banda gravou uma versão em compacto para “I Who Have Nothing”, de Ben E. King, que alcançou uma modesta 46a colocação nas paradas de sucesso.
O problema é que Terry cantava muito mal, e a solução foi fazer com que o guitarrista do grupo, Mark Farner, assumisse também a função de vocalista. Terry ficou magoado e abandonou o grupo, se lançando numa pra lá de fracassada carreira solo. Agora o nome era The Pack e contava com Don Brewer (bateria), Mark Farner (guitarra e vocais), Craig Frost (teclados) e Rod Lester (baixo).
Terry pede para voltar e novas mudanças acontecem; Frost e Lester são dispensados: eles apostam todas suas fichas no poderoso formato “power-trio”, chamando Mel Schacher - um antigo colega de escola de Mark - para o baixo. Em homenagem à famosa estrada de ferro que ligava Michigan a Ontário chamada Grand Trunk and Western Railway, o The Pack passa a se chamar Grand Funk Railroad, em março de 1969.

TEATRO: Claro que há um motivo !

Quando as luzes são acesas, um homem se aproxima do centro do palco e faz a seguinte pergunta: "Por que os homens mentem?". E no meio da explicação quatro outros homens que estão sentados na plateia começam a discutir quais os motivos e o quanto contar a verdade poderia ser ou não algo que prejudicaria a amizade e o convívio entre as pessoas.
Assim começa a segunda temporada do espetáculo da Nósmesmos Produções Artísticas, no Teatro Augusta, na capital paulista. Os cinco atores são: Alessandre Pi, Charles Ferreira, Christiano Hilário, Juliano Mazurchi e Ricardo Vandré. Eles se revezam entre personagens masculinos e femininos, com todo o figurino e maquiagem que, principalmente, as mulheres usam. O trabalho conta com a direção de Heyttor Barsalinil.
O espetáculo é inspirado no livro As mentiras que os homens contam, de Luís Fernando Veríssimo e, nas situações mostradas, a mentira se torna fundamental para que o relacionamento em cena sobreviva. Tanto que os espectadores até se identificam com essas situações, pois um casal que estava sentado na minha frente, sempre se olhava e um dizia para o outro "viu só, você já fez isso".
Tudo mostrado com muito humor e até improvisações, pois, para variar alguém esqueceu de desligar o celular, que ficou tocando durante algum tempo, até que um dos atores vira para a plateia e fala "atende o celular, vai!". Além disso, há uma relação com os espectadores, pedindo um celular emprestado para uma ligação ou conversando com os mesmos sobre as mentiras que são verdades ou verdades que são mentiras.
Uma das situações mostradas é aquela típica em que o pneu do carro fura e o homem, quando vai limpar as mãos, depois de ter trocado o pneu, acaba perdendo a aliança, que cai em um bueiro. Assim eles mostram as duas opções: chegar em casa e contar a verdade (em que a mulher não vai acreditar) ou chegar e contar que estava com outra em um motel (aí sim ela acredita e coloca a culpa em uma suposta crise que o casal está vivendo).
O auge é quando todos estão no palco para o programa Homem que é homem, colocando em cena situações machistas em que nenhum ser masculino pode fazer, pois senão não é considerado como um homem de verdade. Algumas dessas coisas é ir ao cinema ou teatro, por exemplo.
A Nósmesmos é uma companhia de teatro da cidade de Itu, interior de São Paulo, voltada totalmente para a linguagem do humor. A iniciativa de criar esse grupo veio em 2003, quando Christian Hilário e Juliano Mazurchi resolveram juntar suas experiências no teatro e levá-las adiante. Se quiser rir e muito, é um espetáculo que eu recomendo. Por que os homens mentem, que tem duração de 90 minutos, fica em cartaz até 25 de abril, com sessões sexta, sábado (21h) e domingo (19h). Sexta, o valor da entrada é R$ 30,00 e, sábado e domingo, é R$ 40,00.
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terça-feira, 23 de março de 2010

BOAS VINDAS !!!

SEJA BEM VINDO AO LEGADO CULTURAL, AQUI VOCÊ ENCONTRARÁ UM VERDADEIRO ACERVO DE INFORMAÇÕES CULTURAIS. SE VOCÊ GOSTA DE MÚSICA, ABORDAREMOS TODOS OS ESTILOS MUSICAIS, VOCÊ TAMBÉM FICA POR DENTRO DOS LANÇAMENTOS LITERÁRIOS, OS MAIS VENDIDOS DA SEMANA E AS SUJESTÕES SEPARADAS POR GÊNERO.
O CINEMA NÃO PODERIA FICAR DE FORA, FALAREMOS TUDO SOBRE A SÉTIMA ARTE, TAMBÉM MOSTRAREMOS AS NOVIDADES DO TEATRO, MUSEUS, POLÍTICA, ATUALIDADES EM GERAL. NOSSA PRETENÇÃO APENAS É COMPARTILHAR A CULTURA DE UMA BEM ABRANGENTE COM TODOS VISITANTES QUE POR AQUI PASSAREM.

LIVROS: RESENHA DO LIVRO " ALUCINAÇÕES MUSICAIS "

Resenha do livro “Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro”
Book review of Musicophilia: Tales of Music and Brain
Idonézia Collodel Benetti1
RESUMO
Na obra “Alucinações musicais” Oliver Sacks, professor de neurologia Clínica na Columbia University, New York, relata casos de homens e mulheres que, em condições neurológicas raras, reagem à música de forma incomum: alguns não conseguem ouvi-la, e outros simplesmente ouvem música todo o tempo, mesmo sem nenhuma melodia tocando. Há descrição de casos em que, após um acidente, a pessoa desenvolve um talento musical que antes não existia. O livro oferece uma fascinante coletânea de fenômenos interligando neurologia, fisiologia e música, mostrando que a música pode sobreviver a danos cerebrais devastadores.
Unitermos. Encéfalo, Música, Fisiologia, Dano Encefálico.
Citação. Benetti IC. Resenha do livro “Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro”.
Unitermos. Fisioterapia (especialidade), Otorrinolaringopatias, Reabilitação, Vertigem.
Citação. Teixeira LJ, Prado GF. Impacto da fisioterapia no tratamento da vertigem.
Trabalho realizado na Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, Alto Vale do Itajaí-SP, Brasil.
SUMMARY
In the book of “Musicophilia: Tales of Music and the Brain” Oliver Sacks, a Professor of Clinical Neurology at Columbia University in New York City, describes interesting stories about men and women with rare neurological conditions, which react to music in uncommon forms: some of them are unable to hear any kind of music and others, on the contrary, listen to music all the time, even when no melody is being typed. There are cases where, after an accident, the person involved develops a musical talent, that did not manifest before. The book offers a fascinating number of stories about phenomena linking neurology, physiology and music, showing that music can survive the most devastating brain damage.
Keywords. Brain, Music, Physiology, Brain Damage.
Citation. Benetti IC. Book review of Musicophilia: Tales of Music and Brain.301
Resenha
Rev Neurocienc 2009;17(3):301-3
revisão
Rev Neurocienc 2008:in press
A música tem o poder de nos transportar para as “alturas” e/ou para as “profundidades” da emoção. Seu poder é eficaz em relembrar nosso primeiro encontro amoroso, em nos persuadir a comprar, em nos tornar alegres ou tristes, em nos oferecer prazer e paz. Mas esse poder vai muito mais além: na verdade, a música, dependendo da situação e da condição do ouvinte, pode representar momentos quase insuportáveis de irritação e tortura, provocar convulsões, como no caso de um paciente epilético do autor que tem convulsões quando ouve qualquer tipo de música e, por esta razão, anda com tampões de ouvido na cidade de Nova York. Mas a música também pode provocar o efeito contrário do alívio para o sintoma de certas doenças neurológicas.
São essas relações intrigantes do homem com a música, a maioria relacionada a alterações perceptivas e neurológicas, que são apresentadas na obra de Oliver Sacks1, neurologista reconhecido internacionalmente, traduzido para o português brasileiro por Laura Teixeira Motta, sob o título “Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro”, do original em língua inglesa, “Musicophilia: Tales of Music and the Brain”.
Obra lançada em outubro de 2007, pela Companhia da Letras em São Paulo, oferece ao leitor uma coletânea de casos clínicos comentados pelo Dr. Oliver, que se apresenta à literatura, com seu próprio gênero literário, oferecendo um material com as suas digitais. Seguindo seu toque distinto, ele escreve não apenas como médico e cientista, mas também como um humanista com tendências filosóficas. Neste sentido, ele é capaz de equalizar e conjugar duas áreas do conhecimento: neurociência médica e arte musical, passeando pelos mistérios do cérebro humano e pela profundidade e complexidade da música.
Sem dúvida, àqueles que apreciam os escritos de Sacks encontrarão, nesta obra, narrativas peculiares deste autor que continua um participante ativo em suas histórias clínicas; aqui ele mistura as experiências de seus pacientes com suas próprias experiências. Em um dos capítulos, o autor discute as alucinações musicais, incluindo o caso da própria mãe. Ele também relata seu caso de “amusia” adquirida. Assim, ele consegue a empatia do leitor, ao se revelar do outro lado do texto.
Ele divide esta publicação em quatro partes, a saber:
“Perseguidos pela música” – descreve casos de pacientes que reportam que há determinados fragmentos musicais que não saem da sua cabeça. Eles tentam deixar de ouvi-los, mas eles estão lá e eles não sabem o que fazer para se livrar deles; e a música continua tocando, descontrolada e repetitiva, atrapalhando as atividades cotidianas. Há narrações sobre: “musicofilia” obsessiva, que surge abruptamente logo após a um dano cerebral; epilepsia “musicogênica”, onde determinadas músicas frequentemente “disparam” as crises convulsivas; epilepsia musical, onde as músicas fazem parte do conteúdo das convulsões; imagens evocadas pela música e “brainworms” (traduzido como “verme do cérebro”, em linguagem popular: “minhoca na cabeça”, mas aqui, a minhoca está relacionada à música), fragmentos musicais e imagens que continuamente insistem em “povoar” os pensamentos.
“A variação da musicalidade” – traz à tona os talentos e os cérebros musicais discutindo se há diferenças nos cérebros de músicos e não músicos; ouvido absoluto – a capacidade de identificar tonalidades sonoras fora do seu contexto; amusia e desarmonia; o ouvido perfeito: amusia coclear; a sinestesia e a música.
“Memória, movimento e música” – discorre sobre o efeito da música sobre casos de amnésia retrógrada, memória emocional e preservação da memória musical, lesão cerebral, Parkinson, Tourette, membro fantasma, desordens do movimento – distonia do músico – relacionando a música como forma de tratamento.
“Emoção, identidade e música” – descreve os sonhos musicais, música e drogas psicodélicas, música e depressão, demência e musicoterapia, os aspectos musicais do autismo, emoções e música. Nesta sessão, fica enfatizada a importância da música, mostrando que ela pode se um recurso terapêutico para orientar um paciente quando mais nada é capaz de fazê-lo.
Resumindo, o livro contém 29 capítulos independentes, cada um falando sobre excessos e perdas relacionadas à música. Há relatos de pessoas que tem a capacidade de enxergar cores quando pensam em uma nota musical; de guardar sinfonias inteiras e até um vasto repertorio – os savants; de aprender novas partituras e de tocar e improvisar ao piano mesmo com perda severa de memória; de experimentar uma compulsão irresistível por ouvir música de piano, após ter sido atingido por um raio, e se tornar um pianista, mesmo sem talento musical e interesse por música; ouvir melo302
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Rev Neurocienc 2008:in press
dias, mas não distinguir os ritmos; ter alucinações musicais, como reação a uma surdez progressiva.
Os poderes terapêuticos da música vêm sendo “namorados” e acumulados pelo autor, ao longo de sua vida profissional. Ele tem presenciado pacientes que reagem bem ao ouvirem música, obtendo conforto para seu sofrimento, quando nenhuma medicação é capaz de fazê-lo. Esse flerte fica oficialmente deflagrado em sua obra “Tempo de despertar”, onde ele descreve os efeitos surpreendentes da música nos seus pacientes.
Agora, ele dedica toda a presente obra a este assunto. E, como em obras anteriores, Sacks tenta disponibilizar o mundo da neurologia para os leigos deixando, na medida do possível, a linguagem científica para os trabalhos acadêmicos, usando linguagem leiga para se aproximar do leitor comum. Essa, talvez, seja a tônica de seu sucesso enquanto escritor e divulgador científico.
Porém, conjugar duas áreas do conhecimento em uma só obra, tem seus percalços.
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Resenha
Rev Neurocienc 2009;17(3):301-3
Não é tarefa simples encontrar um leitor com noções mínimas de Neurociências e Música ao mesmo tempo. Assim, apesar da tentativa de tornar o texto científico claro para o leitor leigo, há momentos em que as descrições técnicas podem parecer um tanto cansativa.
Ainda assim, é um livro recomendado não somente para leigos, mas para todos aqueles profissionais de saúde e outros profissionais – médicos, psicólogos, musicoterapeutas, pessoas envolvidas com a área das neurociências – que sabem que o organismo humano é sensível à música, e este requisito pode ser usado multidisciplinarmente para fins terapêuticos.
Sem sombra de dúvidas, além de abrangente, o autor conseguiu mostrar que a música é capaz de “descongelar” as avenidas neurológicas devolvendo mobilidade, ritmo, fala e fluência, recobrando lembranças, controlando tiques e impulsos, enfim, devolvendo qualidade de vida.
REFERÊNCIAS

1.Sacks O. Alucinações Musicais. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, 360

segunda-feira, 22 de março de 2010

A MÚSICA E O CÉREBRO


Oliver Sacks

De todos os animais, o homem é o único dotado de ritmo, capaz de responder à música com movimentos. É também o único a apresentar um cérebro adaptado para compreender complexas estruturas musicais e ainda se emocionar com elas. Músicos apresentam alterações em regiões cerebrais jamais vistas em outros profissionais. Para o neurologista britânico Oliver Sacks, a musicalidade é tão primordial à espécie quanto a linguagem e entender a relação entre música e cérebro é crucial para a compreensão do homem.
Em seu mais novo livro, “Alucinações musicais” (Editora Companhia das Letras), o especialista relata casos de pessoas que reagem à música de formas incomuns. Há os que simplesmente não conseguem ouvi-la. E há os que a ouvem o tempo todo, mesmo quando nenhuma melodia está tocando.
Há gente que passou a ouvir os sons de forma diferente após ser submetido a uma cirurgia cerebral. E mesmo os que desenvolveram um incomum talento musical. Nesta entrevista, Sacks conta que há um vasto caminho ainda a percorrer para que se possa entender completamente esses fenômenos. Mas uma coisa, diz, é fato: “A música se apossou de muitas partes do cérebro humano.”
O GLOBO (Roberta Jansen): O senhor concorda com Charles Darwin quando ele diz que a música teve um papel importante na evolução? Especificamente na seleção sexual, como um atrativo a mais para o sexo oposto?
OLIVER SACKS: Como o comportamento e as suscetibilidades não deixam registros fósseis, é difícil saber como nossos ancestrais se comportavam. Mas estou inclinado a pensar que a música surgiu muito cedo na espécie humana, tão cedo quanto a linguagem. Linguagem e música são fontes de comunicação primordiais.
GLOBO: O senhor discorda, portanto, de Steven Pinker e de outros especialistas que sustentam que a música é um subproduto do aparato sensorial, prazerosa mas dispensável?
SACKS: Sim, discordo de Pinker. Não vejo a música como algo acidental e trivial, como um subproduto da linguagem.A música está presente em todas as culturas e apresenta, nos seres humanos, aspectos únicos que não têm paralelo na linguagem. Falo do ritmo, do fato de respondermos à música com movimentos. Nenhum outro animal faz isso. É preciso ver o ritmo como algo primordial na evolução humana.Porque todos os seres humanos respondem a ele. A música une as pessoas. E há conexões específicas no cérebro para isso.
GLOBO: Unir as pessoas poderia ser uma vantagem evolutiva?
SACKS: Não posso dizer que a musicalidade humana se desenvolveu para unir as pessoas.Mas algo surgiu, se mostrou vantajoso e houve a seleção dessa característica. É claro que a musicalidade é uma vantagem evolutiva. Nenhum outro animal dança com ritmo, mas qualquer criança o faz. Isso pode ter sido um fenômeno quando surgiu, todos esses pequenos seres dançando.
GLOBO: De que forma isso é marcado no cérebro humano?
SACKS: Muitas partes do cérebro se desenvolvem com a percepção, o aprendizado e a imaginação do ritmo. De novo, nenhum outro animal tem a capacidade de ouvir e analisar sons complexos, com tons, semitons, ritmos, palavras.Essa habilidade é especificamente humana. Mesmo pessoas que sofrem de mal de Alzheimer ou tiveram um derrame respondem à música.Várias estruturas do cérebro se relacionam a isso.
GLOBO: De que forma?
SACKS: A música se apossou de muitas partes do cérebro humano. É possível ver como o cérebro se modifica em resposta à música. Estudos com imagens do cérebro já comprovaram a ampliação de determinadas regiões no cérebro de músicos. Vendo imagens de cérebros, não dá para dizer quem é matemático ou escritor. Mas dá para dizer facilmente quem é músico quando essas estruturas ampliadas aparecem.
GLOBO: Há alguma parte do cérebro especialmente voltada para música?
SACKS: Não há uma só parte do cérebro. A música está em todo mundo, por todo o cérebro, envolve várias partes desse órgão e não necessariamente as mesmas. Isso é que é o mais incrível.
GLOBO: Mas há também os que não respondem de forma alguma à música, não é?
SACKS: Sim, há algumas pessoas que não percebem musica e ficam muito impressionados com os relatos. Há outros que não ouvem determinados tons ou semitons. Essas amusias ocorrem em razão de danos no cérebro. Parte da rede que está faltando.
GLOBO: E as alucinações musicais? Até que ponto elas poderiam ser interpretadas como um problema psicológico?
SACKS: Quando uma pessoa tem alucinação musical (ouve música que ninguém mais está ouvindo), a primeira coisa que pensa é que ficou louco, que está ouvindo coisas. Mas é um processo completamente diferente de ouvir vozes como os esquizofrênicos. Eles recebem ordens, é bem diferente e as pessoas enfatizam isso. Alucinações musicais são bem comuns, são como velhas memórias que tocam na mente. Não é uma doença mental.
GLOBO: Por que a música muitas vezes provoca uma reação emocional? Como o cérebro é capaz de diferenciar uma melodia triste de uma alegre?
SACKS: Um dos maiores poderes da música é controlar emoção, desenvolver, provocar respostas emocionais. Anatomicamente, podemos dizer que algumas regiões do cérebro afetadas pela música estão perto daquelas ligadas às emoções, envolvidas nas percepções dos cheiros que despertam memórias. Mas ainda não está claro como essas respostas emocionais ocorrem. Não se sabe ainda o quanto depende da cultura.

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Fonte: http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2007/09/29/297941924.asp

CINEMA - AVATAR


De tempos em tempos uma tribo alienígena desce de uma nave espacial e balança a história do cinema. Isso aconteceu, por exemplo, em 1977 - a nave se chamava Millennium Falcon e um de seus ocupantes era o peludo Chewbacca, espécie de elo perdido entre o homem e o macaco. Na ocasião, Guerra nas Estrelas propôs uma nova maneira de fazer e comercializar filmes. Agora, os ocupantes da nave são índios azuis vindos diretamente do planeta Pandora. Avatar, maior sucesso de bilheteria da história, vencedor do Globo de Ouro de melhor filme na categoria Drama e candidato a bicho-papão do Oscar, é a maior revolução do cinema desde Guerra nas Estrelas. Quando a saga que opunha Luke Skywalker a Darth Vader foi lançada, a maior crítica de filmes da história da imprensa americana - Pauline Kael, da revista The New Yorker - escreveu que o cinema, para o bem e para o mal, nunca mais seria o mesmo. Do mesmo modo, Avatar parece destinado a dividir o invento dos irmãos Lumière em antes e depois. Há mais semelhanças entre os dois filmes do que pode supor a impenetrável filosofia Jedi - ou vá lá, a peculiar compreensão do mundo dos azulados índios Na'vi.
Quando se fala em revolução, não se trata apenas de uma questão estética. Ela existe, mas é secundária. Guerra nas Estrelas e Avatar se parecem, antes de qualquer outra coisa, por propor soluções originais para dilemas da indústria cinematográfica em suas respectivas épocas. Quando Guerra nas Estrelas foi lançado, o cinema americano vivia uma fase de excelentes diretores - Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Michael Cimino, Steven Spielberg - mas, exceto por algumas produções deste último, havia perdido a conexão com o mundo da cultura pop. Era um tempo em que o Oscar era dominado por filmes "adultos", muitos deles meditações sobre a Guerra do Vietnã, o atoleiro em que os Estados Unidos haviam se metido na época. George Lucas, diretor de Guerra nas Estrelas, queria voltar a fazer cinema para o público jovem. Sobretudo, queria fazer filmes que fossem mais do que filmes. Produções que - como ocorria em outras áreas da cultura pop, como o desenho animado ou os quadrinhos - fossem o ponto de partida para a venda de produtos: brinquedos, roupas, máscaras e os recém-inventados videogames.
Guerra nas Estrelas foi pensado com essa finalidade. E o resultado não poderia ser melhor. Foi o primeiro filme da história a faturar mais com merchandising do que com bilheteria - na época do lançamento, os três primeiros longas da série geraram 1,3 bilhão de dólares, enquanto os badulaques criados a partir da história, como a máscara de Darth Vader, arrecadaram 4 bilhões. O sucesso foi tanto que, na década seguinte, o cinema se voltou para o público para o qual Lucas olhara de forma pioneira: o adolescente do sexo masculino, que pagava ingresso e ainda comprava as traquitanas.
Avatar, do mesmo modo, é uma resposta a um dilema do nosso tempo, este muito mais dramático: a própria existência do cinema. Refletindo sobre o assunto, o jornalista David Denby, que sucedeu Pauline Kael como crítico da mais influente publicação cultural americana, criou a expressão "agnóstico de plataforma". Ele se refere a toda uma geração que não vê diferença entre assistir a um filme no cinema ou na tela de um computador, ou mesmo no microvisor de um telefone celular. Se os agnósticos de plataforma se tornassem maioria, escreveu Denby, os cinemas estariam destinados a acabar, e com eles toda uma fantástica tradição de obras de arte pensadas para a tela grande - ou alguém imagina assistir a clássicos como A Doce Vida, de Federico Fellini, ou O Leopardo, de Luchino Visconti, na tela de um iPhone?


CERVEJA LIGHT E CALÇA JEANS

Avatar é uma das respostas possíveis a esta questão. O filme dá um xeque-mate nos agnósticos de plataforma ao oferecer ao espectador uma experiência estética que só é viável dentro de uma sala de projeção. Apenas em frente à tela grande é possível sentir maravilhamento e medo quando harpias coloridas dão vôo rasante sobre os espectadores - ou quando, assumindo o ponto de vista dos índios que pilotam as aves, nos vemos dando mergulhos acrobáticos em clareiras de uma selva exuberante. O filme ressuscita a técnica do filme em terceira dimensão, que agora finalmente funciona direito - nada parecido com os ineficazes óculos de duas cores usados na pré-história do gênero. Assim como Guerra nas Estrelas teve vários sucessores, já estão anunciados filmes infanto-juvenis feitos com a mesma técnica de Avatar - séries como Shrek e Toy Story ganharão suas versões em três dimensões. Até George Lucas planeja relançar sua saga em 3D.
Outra semelhança entre Avatar e Guerra nas Estrelas é que os dois filmes abraçam um ideário que vem resistindo ao tempo de forma surpreendente: o da contracultura dos anos 60. A saga de George Lucas opunha um Império militarizado, comandado por Darth Vader, a um bando de hippies que acreditavam em coisas como pensamento positivo e percepção extra-sensorial - a chamada "força". O Império era eficiente e planejado. Os hippies, liderados por um velho guru, Obi-Wan Kenobi, e seu epígono, Luke Skywalker, eram desorganizados e intuitivos. Avatar segue a mesma linha, acrescentando pitadas de discurso ecológico. No filme, uma grande corporação quer expropiar índios de suas terras para explorar economicamente um minério valiosíssimo - ao qual o diretor James Cameron deu o irônico nome de "unobtainium", algo que não se pode obter. Para conseguir o seu intento, ela contrata um exército de mercenários e cria uma fantástica tecnologia de espionagem, na qual os informantes podem assumir corpos de índios -são eles os chamados "avatares".
Estão dadas as condições para um desfile de clichês politicamente corretos. A vida comunitária é boa, mas as grandes corporações são más. A ciência - os pesquisadores que querem usar os avatares com fins pacíficos - é "do bem", enquanto a tecnologia é "do mal". Sobretudo, não há espaço para nuances. Quando fez Guerra nas Estrelas, George Lucas disparou uma pedrada no relativismo moral dos anos 70. Ele queria, segundo declarou em entrevistas, fazer um filme onde fosse fácil distinguir o bem do mal, como nos antigos faroestes. Avatar segue a mesma linha. A cada quadro (se é possível chamar de quadro uma imagem que se projeta sobre o espectador) o diretor James Cameron deixa bem claro para quem devemos torcer.
Os diálogos vão na mesma direção. Numa cena em que alguém fala em intercâmbio de cultura entre nós, terráqueos, e os índios puros e idealistas que habitam o planeta Pandora, o protagonista do filme, o ex-fuzileiro naval Jake (interpretado pelo ator Sam Worthington), diz: "O que teríamos para oferecer a eles? Cerveja light e calça jeans?". Claro que ele poderia falar também numa sociedade menos machista (os índios azuis tratam suas mulheres como fazíamos na época das cavernas), ou em realizações artísticas como a Capela Sistina de Michelangelo ou a Nona Sinfonia de Beethoven. Mas aí o filme teria espessura, complexidade, faria pensar - o que não se enquadra na regra do faroeste que baliza tanto Avatar quanto Guerra nas Estrelas.

ROBÔS DE "METRÓPOLIS"

Outra coisa que George Lucas elevou à máxima potência e James Cameron de certa forma segue são as referências à história do cinema. Em Guerra nas Estrelas, os robôs são idênticos aos de Metrópolis (1927), clássico do diretor alemão Fritz Lang, enquanto os figurinos do mestre Obi-Wan Kenobi e demais cavaleiros Jedis são claramente copiados do filme Lawrence da Arábia (1962), a obra-prima do britânico David Lean. Nos anos 70, isso se chamava citação e era considerado "pós-moderno". Avatar, por seu turno, faz um verdadeiro inventário do cinema americano politicamente correto, com referências que vão de Pocahontas (1995) a Dança com Lobos (1990). As referências, no entanto, estão mais no tema abordado - o homem ocidental que se encanta com uma cultura diferente - do que no visual e figurinos.
Além da sensível distância no capítulo efeitos especiais - usando o metro de Avatar, até agora o maior triunfo da era da computação gráfica, as naves espaciais de papelão de Guerra nas Estrelas parecem ainda mais toscas - a grande diferença entre os dois filmes é que, em tempos céticos como os atuais, não se acredita mais em produções que determinem um rumo único para o cinema. Nos anos 70, os intelectuais que na época eram chamados de "apocalípticos" previram que Guerra nas Estrelas e seus sucessores varreriam do mapa as produções calcadas na dramaturgia adulta - ela seria substituída por arrasa-quarteirões com cara de história em quadrinhos. Isso não aconteceu: diretores devotados ao diálogo, como o americano Woody Allen, ou cultores do chamado "filme de arte", como o espanhol Pedro Almodóvar, continuaram existindo e fazendo sucesso. Ao propor, pela via do visual, uma nova experiência estética ao espectador, Avatar é uma resposta poderosa aos dilemas do cinema atual. Na época incerta e fascinante que vivemos, no entanto, sabemos que não é nem será a única. Leia Também:

domingo, 21 de março de 2010

CRÔNICAS

A bananização da música
RIO DE JANEIRO - No fim do século 20, David Bowie previu que, no futuro, o comércio de música pela internet estaria nos computadores como a energia elétrica, o gás, o telefone e a TV paga estão nas casas e escritórios. O cliente teria uma assinatura e pagaria de acordo com o seu consumo. A música seria uma commodity, vendida a preço de banana. Tantos watts de eletricidade, tantos canais de tv, tantos quilos? litros? metros? bites? de música.
Hoje, além de um modelo de negócio em pleno florescimento em países onde prevalece a cultura de pagar pelo que se consome, a comercialização massificada e globalizada de música, legal e pirata, acabou com o que restava das antigas ilusões de importância, transcendência e glamour da música pop, que a indústria do disco desenvolveu - e sugou - à exaustão.
A vulgaridade se tornou um valor indispensável ao sucesso de massa. Os investimentos em promoção se tornaram muito maiores do que em criação e produção. Os melhores selos e gravadoras, criados por músicos, produtores e editores, terminaram em gigantescos conglomerados, dominados por advogados, financistas e marqueteiros.
A música, a melhor e a pior, se tornou irreversivelmente banal, como uma banana. O lado B, de bom, da bananização da música gravada, é a maior valorização da música ao vivo, quando se cria entre o artista e o público uma relação pessoal e intransferível, muito além do contato virtual e digital.
Há muitos anos, Caetano Veloso falava sobre fazer, ou não, músicas novas, e dizia que já havia música demais em toda parte. Imagine agora. Chico Buarque dizia detestar música ambiente porque, se é boa, distrai e atrapalha a conversa, e se é ruim, então para que tocar?

Mas, afinal, para que serve a música?
O grupo norte-americano de rock ZZ Top, que esteve no auge nas décadas de 70 e 80, faz única apresentação na capital paulista, em 20 de maio, no Via Funchal (região oeste). Os ingressos, que já estão à venda, custam R$ 300 (pista premium e camarote), R$ 250 (mezanino) e R$ 200 (pista). A meia-entrada é vendida somente na bilheteria do Via Funchal, que funciona diariamente das 12h às 22h. A compra dos ingressos pode ser feita por telefone 0/xx/11/2144-5444, pela internet, no site do Via Funchal e em cinco pontos de venda --Baratos Afins (tel. 0/xx/11/3223-3629) e Flame Store (tel. 0/xx/11/3224-8916), ambas na Galeria do Rock (r. 24 de Maio, 62, Centro); London Calling (r. 24 de Maio, 116, tel. 0/xx/11/3223-5300); Newness Livros e Revistas (av. Yojiro Takaoka, 4528, loja 02, La Ville Mall, Alphaville); e Fujji Turismo (r. Tapajós 33C, Guarulhos, tel. 0/xx/11/2441-9272). Formada desde o início por Billy Gibbons (vocal e guitarra), Dusty Hill (vocal e baixo) e Frank Beard (bateria), a banda texana tem mais de 40 anos de carreira. O começo foi em 1969 e, três anos depois, o disco de estreia chegou às lojas--"ZZ Top's First Album", com faixas predominante de blues. A música "Francine", do segundo álbum, "Rio Grande Mud", colocou o trio finalmente em evidência, quando ficou entre as mais tocadas.
O mais recente trabalho data de 2009: o DVD "ZZ Top Double Down Live 1980-2008", gravado ao vivo durante shows na Alemanha e na turnê europeia que aconteceu um ano antes.
Via Funchal - r. Funchal, 65, Vila Olímpia, região oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/2144-5444 (call center). 6.000 lugares. 20/5: 22h (a casa abre às 20h). Ingr. (inteiras): R$ 200 (pista), R$ 250 (mezanino) e R$ 300 (pista premium, em pé, e camarote). Não recomendado para menores de 12 anos.

sábado, 20 de março de 2010

MASP - EXPOSIÇÕES EM CARTAZ

ACERVO DO MASP


ROMANTISMO: A ARTE DO ENTUSIASMO Período:

5 de fevereiro a 8 de maio de 2010Obras de Bosch, El Greco, Monet, Renoir, Van Gogh, Dalí, León Ferrari, Tomie Ohtake e dezenas de outros mostram que os ideais do Romantismo - movimento identificado entre meados dos séculos XVIII e XIX - permeiam a arte produzida nos últimos 500 anos no Ocidente.

MASP - O MINUTO E A CIDADE

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FESTIVAL DO MINUTO: A RESPOSTA


O MINUTO E A CIDADE Período:

11 de março a 9 de maio de 201062 vídeos selecionados pela curadoria do Festival do Minuto mostram o embate cotidiano de quem vive na metrópole: as dificuldades nas relações pessoais, o trânsito, o excesso de tarefas. Público poderá enviar vídeos-respostas aos que estão em cartaz e os selecionados serão integrados semanalmente à exposição. O Minuto e a Cidade - Festival do Minuto: A Resposta está em cartaz na Galeria Clemente de Faria

sexta-feira, 19 de março de 2010

MÚSICA CLÁSSICA

O mundo da música será diferente em 2010. Pianos de todos os tipos, de todas as marcas, em todas as salas de concerto, em todos os cantos do mundo estarão em jubilo, em festa, em comemoração. Trata-se do bicentenário de Frédéric Chopin (1810-1849), o compositor que deixou na música romântica do século XIX grande parte de todas as belezas que um ser humano pode criar para a música pianística. Os teclados estarão mais lustrosos em sua homenagem, as percutidas cordas vão se enfeitar com brilho pelo duplo centenário de seu grande mestre, o pedal de qualquer piano de cauda vai executar o legato com mais doçura, mais sensibilidade e com infinita saudade desse monumento sagrado da composição romântica.




Chopin nasceu em 1810 em uma propriedade rural em Zelazowa Wola, perto de Varsóvia, filho de mãe polonesa e pai francês (expatriado). Fontes históricas indicam duas possíveis datas de nascimento - ou 22 de fevereiro, conforme consta nos registros da igreja, ou 1º de março, que foi mencionado nas cartas entre ele e sua mãe, e que é considerada a data mais provável. Não importa a exatidão do dia, mas a exaltação da música. Lembrar Chopin é para quem nunca quer esquecer de amar, de se emocionar, de sentir as notas entrarem pelos poros como febre, como êxtase de paixão. Chopin não inventou a beleza, mas mostrou que ela é infinita enquanto sua música é executada.



É certo que em nenhum outro lugar haverá tanto êxtase pelo bicentenário como na Polônia, notadamente em Varsóvia. “Frédéric Chopin é um ícone polonês, e não há nenhuma outra figura tão conhecida no mundo que tão bem represente a cultura polonesa”, disse Andrzej Sulek, diretor do Fryderyk Chopin Institute. O grau de seriedade das palavras de Sulek pode ser comprovado pela urna que preserva em álcool até hoje o coração do compositor, numa igreja de Varsóvia (Santa Cruz). Aos 39 anos, provavelmente tuberculoso (tossindo intensamente), Chopin teve medo de ser enterrado vivo e pediu que seu coração fosse separado do corpo, que está enterrado no cemitério Père Lachaise, em Paris, onde Chopin passou a segunda metade de sua vida.



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A celebração pelos 200 anos de seu nascimento parece não ter limite e envolve todo o globo. Um festival atrás do outro, concertos, missas, mostras artísticas, literatura, uma onda frenética de comemorações que fará de 2010 um ano especial e inesquecível para a música. Já em janeiro as comemorações se iniciaram na 16ª. edição de “La Folle Journée de Nantes”, talvez o maior festival dedicado à música clássica na França. O “Universo de Chopin” foi mostrado com apresentações de toda sua obra (em ordem cronológica) por mais de 40 pianistas. Cerca de 120 mil ingressos foram vendidos para os cinco dias do evento, uma prova inequívoca da atratividade do compositor.



Mas será no primeiro dia de março, em Varsóvia, que a celebração oficial se inicia com um Concerto de Gala no Stanislaw Moniuszko Auditorium (Teatro Nacional). Até o dia 7 de março, o pianista e maestro Daniel Barenboim, realizará recitais de Chopin em várias cidades da Europa (iniciou em fevereiro). Também em março, do outro lado do mundo, no coração dos Emirados Árabes, ocorre o “2010 Abu Dhabi Festival”, que este ano celebrará o bicentenário do compositor, numa festa monumental com a participação de nomes como o maestro Krzysztof Penderecki, o pianista Yundi Li, o trompetista Wynton Marsalis, e até a London Symphony Orchestra conduzida por Sir Colin Davis. Em maio estreia mundialmente o “Ballet Chopin,” coreografado por Patrice Bart para o Polish National Ballet. Em agosto é a vez do “65th Chopin Festival”, a ser realizado na localidade polaca de Duszniki-Zdrój, onde o compositor residiu a maior parte de sua vida criativa. Em outubro ocorre a final da 16ª. edição do “Frederyk Chopin International Piano Competition”. Também em março será reaberto oficialmente em Varsóvia o Fryderyk Chopin Museum, e no mesmo mês ocorrerá em Ontário o “Canadian Chopin Festival” (26 fevereiro – 07 março), dez dias de festa, música e até um concurso para piano (Third Canadian Chopin Competition).



O Parlamento Polonês declarou formalmente 2010 como o “Ano de Chopin”, e não o fez à toa. Inconformado com a situação de dominação de seu país, na época dividido entre Rússia, Prússia e Áustria, Chopin saiu em 1830 para uma série de recitais e nunca mais voltou a Varsóvia. Guerras, repressão, dominação soviética e toda a sorte de martírios sofreu o povo polonês desde esse período, tendo agora, como nação livre, a oportunidade de comemorar, e de certa forma reivindicar o legado do compositor (a França adora pensar que Chopin “lhe pertence”). Trata-se, enfim, de uma maratona de comemorações que o jornal Los Angeles Time estima em mais de 2000 eventos de primeiro nível sendo realizados durante todo o ano em cidades como Londres, Paris, Nova York, Roma, Buenos Aires, Tel Aviv, Miami, etc. Espero nas próximas semanas falar mais sobre as comemorações do bicentenário no Brasil, que ainda são tímidas.



A extensão da importância de Chopin pode ser também avaliada pela quantidade de títulos literários sobre sua vida. “O Funeral de Chopin”, de Benita Eisler, lançado aqui em 2005, é uma incrível viagem pelos dias finais da vida do compositor. Já em “Correspondência de Frederic Chopin” (2008), da professora de piano gaúcha Zuleika Rosa Guedes, é tradução da obra original publicada em 1981, em Paris. Outra boa sugestão é o polêmico “Chopin em Paris”, do jornalista e escritor Tad Szulc (falecido em 2001), que disseca os 18 anos em que o compositor viveu em Paris. Szulc tenta mostrar que o “grande amante” tinha, na verdade, ojeriza por mulheres e que o mito do compositor engajado politicamente era tolice. Criticado e elogiado, o livro de Szulc é uma ducha de água fria nos fãs da vida pessoal do compositor. Segundo o autor, Chopin era carreirista, um arroz-de-festa escolado que frequentava todas as reuniões que podia, e adorava dar jantares e bajular os poderosos. Certamente que para cada biografia “verdadeira” e cruel sobre o compositor, existe outra afável e que alimenta os mitos em torno de sua figura.



Todavia, o que nenhum autor, biógrafo ou estudioso discute é a qualidade de sua música, e que no fundo é o que importa na celebração de seu bicentenário. O chinês Yundi Li tinha 18 anos quando venceu o Frederick Chopin Piano Competition em 2000, e foi o mais jovem artista a conquistar o prêmio. Ouçam-no abaixo interpretando o Noturno Nº 9 do compositor, uma das mais belas peças românticas de Chopin. Os pianos vão estar mais belos em 2010, os pianistas mais concentrados na obra do compositor, e nós, ouvintes, mais agradecidos pela oportunidade de ter um ano todo com a música de Chopin mais perto de nosso coração.


O MÁGICO DE OZ

Os estúdios da Warner planejam produzir um remake em 3D de “O Mágico de Oz”, filmado com grande sucesso em 1939 pelo diretor Victor Fleming (“E o Vento Levou”), que catapultou Judy Garland ao estrelato. O filme foi baseado no livro “O Maravilhoso Mágico de Oz”, do norte-americano L. Frank Baum, publicado originalmente em 1900. A obra, uma deliciosa fantasia infantil, conta a história da garota Dorothy, que depois de uma tempestade é transportada com seu cachorro Totó para uma terra desconhecida (Oz). Lá encontra, além de homenzinhos estranhos (Munchkins), muita aventura.

Baum, que já era um autor razoavelmente conhecido, colocou a mão no bolso e custeou a primeira edição, vendendo 90 mil exemplares nos dois primeiros anos. O livro tinha ilustrações do genial cartunista W.W. Denslow, que trabalhou com Baum em outros livros da série, dividindo louros e lucros. Uma guerra de egos os afastou, brigaram, e Denslow acabou comprando uma ilha nas Bermudas, onde torrou todo dinheiro ganho nos tempos de “Oz” e acabou morrendo de pneumonia, totalmente esquecido (depois John R. Neill continuou a ilustrar a série). Muitos, ainda hoje, dizem que sem as gravuras e ilustrações de Denslow o livro não seria o sucesso que foi.

A obra de Baum foi inspiração para peças de teatro, musicais da Broadway, operetas, filmes e mais filmes, livros, HQ, sendo até mote político para campanhas eleitorais. O mundo da cultura-entretenimento se ajoelhou à fantasia de Dorothy e seus amigos, o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão (sem esquecer a vilã, a Bruxa Má, que tenta impedi-la de voltar para casa). Baum começou a escrever muito cedo, mas antes do sucesso, como ocorre com muitos escritores, enveredou por vários caminhos tendo sido jornalista, empresário, autor teatral (uma de suas peças, “Maid of Arran”, chegou a obter sucesso), mas nunca deixando de ser um entusiasta da literatura infantil (na época, esse tipo de livro tinha uma abrangência bem diferente da de hoje). Casou-se em 1882 com Maud Gage, filha de Matilda J. Gage, uma proeminente mulher, ativista de várias causas políticas, como o sufrágio universal, que era totalmente contra o matrimônio de sua filha com um aventureiro sonhador como Baum.

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No final da década de 1880 ele e sua família (agora com dois filhos), mudaram-se para Dakota, onde Baum trabalhou por um tempo como comerciante e depois como editor de jornal. Em 1891, já com quatro filhos, viu-se cada vez mais pressionado a ter uma sustentável estabilidade financeira, e mudam-se novamente, agora para Chicago, onde Baum foi repórter e caixeiro-viajante, entre outras coisas. Mas foi lá que ele começou a escrever algumas histórias infantis, que contava a seus filhos todas as noites, sendo uma delas, “Mother Goose” (Mamãe Ganso), publicada em 1897 com relativo sucesso. Animado, Baum decide colaborar em outro livro infantil, “Father Goose” (1889), desta vez com ilustrações de seu futuro ex-amigo W.W Denslow. Agora sim, Baum acertava na mosca, sendo o livro um tremendo best-seller, só suplantado por sua criação do ano seguinte: “O Maravilhoso Mágico de Oz”. Tinha 44 anos quando esta foi publicada, e nem mesmo ele imaginava o alcance que ela teria (o filme de Fleming e Garland foi julgado como a melhor peça cinematográfica familiar de todos os tempos pelo American Film Institute, e a música do filme, “Somewhere over the Rainbow”, é uma das “Canções do Século” eleita pela Recording Industry Association of America).

Baum ficou rico, famoso, tendo escrito quase 70 obras infantis ao longo da vida, sendo inúmeros desses livros baseados na Terra de Oz, como “The Marvelous Land of Oz” (1904), “Ozma of Oz” (1907), “Dorothy and the Wizard of Oz” (1908), “The Road to Oz” (1909), “The Emerald City of Oz” (1910), “The Patchwork Girl of Oz” (1913), dentre outros. O escritor tinha problemas congênitos no coração, o que o levou a ter várias crises ao longo da vida. Com problemas graves na vesícula, Baum entrou em coma por 24 horas e morreu em 6 de maio de 1919, quando segundo testemunhas teria proferido: “Agora podemos atravessar as areias movediças”.

Outros autores continuaram a escrever centenas de livros, roteiros e novelas baseados na ideia original de Baum, incluindo seu filho Roger. Ao final da vida, empreendedor como era (tendo inclusive investido num filme sobre Oz, em 1914), o autor estava repleto de dívidas, sendo seu último livro, “Glinda of Oz”, publicado um ano após sua morte.

Baum foi audacioso, instigante, pretensioso, um visionário como só a literatura pode parir. Colocou como protagonista de sua história uma mulher (a antagonista, Bruxa Má, também é mulher), o que na época não era pouca provocação. Subverteu o “estatuto do herói”, inserindo uma criança como centro da narrativa, e permitindo que os pequenos leitores pudessem se identificar de corpo e alma com a heroína. O mágico, aquele que deveria resolver as carências e aflições dos amigos, é um blefe, destituído de atributos de magia, um farsante. De acordo com os estudiosos da psicanálise infantil, como Marie-Louise von Franz, ou da sociologia, como Dieter Richter ou Johannes Merkel, a fantasia é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, na medida em que possibilita a solução de vários problemas pessoais inerentes ao desenvolvimento e a integração da personalidade da criança.

Talvez Baum não soubesse de nada disso, talvez fosse só um homem dotado de grande sensibilidade infantil, talvez não imaginasse que seu livro pudesse ajudar a romper barreiras (maior reconhecimento da mulher, valorização da criança, etc.), e talvez nem se importasse em saber que sua obra iria impor novas formas de fantasia que até hoje são utilizadas em larga escala. Mas Baum, sabendo ou não, repaginou a indústria dos sonhos (como Lewis Carroll já havia feito com “Alice”) e esculpiu no imaginário de gerações uma das mais ricas fantasias da literatura infantil de todos os tempos.